LITÚRGIA



O que é a Litúrgia?
 
A Liturgia é o culto sagrado que os antigos levitas ofereciam a Deus e que hoje é prestado pelo próprio Cristo, que se fez Sacerdote e Vítima de nova e definitiva Aliança, estendido até nossos dias pela celebração da Eucaristia, que unindo o nosso sacrifício ao de Cristo nos faz também “hóstias vivas”.
A Liturgia católica, instituída por Jesus, visa celebrar (tornar célebre), dar importância, honrar, exaltar, em comunidade, a Santíssima Trindade de modo especial e celebrar os “santos mistérios”.
O Concílio Vaticano II, através da Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium (SC) expôs de modo admirável o que é a Liturgia e como ela deve se realizar.
“Na liturgia Deus fala a seu povo. Cristo ainda anuncia o Evangelho. E o povo responde a Deus, ora com cânticos, ora com orações.” (SC,13).
Pela Liturgia a Igreja celebra o mistério de seu Senhor “até que Ele venha” e até que “Deus seja tudo em todos”(1Cor 11,26;15,28).
A Liturgia é uma ação sagrada, com ritos, na Igreja e pela Igreja, pela qual se realiza e se prolonga a obra sacerdotal de Cristo, para a santificação dos homens e a glorificação de Deus. (cf. SC,7)
Assim, para celebrar bem a Liturgia é preciso ter uma profunda noção do que é o Cristianismo; o conhecimento da história da salvação, da obra de Cristo e da missão da Igreja.
Sem isto a Liturgia não pode ser bem compreendida e amada, e pode se transformar em ritos vazios.
Podemos dizer que o último tempo da história da salvação – o tempo de Cristo e da Igreja – é o tempo da Liturgia, uma vez que ela torna presente a obra redentora de Cristo pela celebração dos Sacramentos. Assim, somos também nós participantes da história da salvação.
A Liturgia é a própria história da salvação em exercício, já que nela se celebra (torna presente) tudo o que Deus realizou ao longo dos séculos para salvar os homens.
Jesus nos revelou plenamente o Pai, e ensinou-nos a comunicar com Ele. Ele é a ponte entre nós e o Pai. Ele é o Caminho, o Sacerdote único que apresenta a Deus as nossas preces (cf. Hb 5,7). É por isso que nas celebrações litúrgicas fazemos todas as ofertas a Deus “por Cristo, com Cristo e em Cristo”; tudo em seu Nome.
A Liturgia participa do grande desejo de Jesus:
“Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco (…) até que ela se cumpra no Reino de Deus.” (Lc 22,15-16).
Na liturgia, a Igreja celebra principalmente o mistério Pascal pelo qual Cristo realizou a obra da nossa salvação (cf.Cat. §1067). É o mistério central da vida de Cristo, sua Paixão, Morte e Ressurreição para nos salvar. A Páscoa dos judeus, onde celebravam a saída gloriosa do Egito, foi apenas uma prefiguração da Páscoa de Cristo; a verdadeira passagem da morte para a vida.
Quando a Liturgia faz memória desses mistérios, ela os torna presentes, traz para o momento atual esses acontecimentos da salvação e renova a nossa redenção; ainda nos indica o futuro: a construção do Reino de Deus.
No divino sacrifício da Eucaristia, “se exerce a obra de nossa redenção”, contribui do modo mais excelente para que os fiéis, em sua vida, exprimam e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a genuína natureza da verdadeira Igreja” (SC 2).
Pela Liturgia, Cristo, nosso redentor e sumo sacerdote, continua em sua Igreja, com ela e por ela, a obra de nossa redenção. (Cat. §1069)
Por meio dela Jesus Cristo exerce o seu múnus sacerdotal, onde é realizada a santificação do homem, e o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, cabeça e membros.
Por isso, afirmou o Vaticano II que “toda a celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote e de seu corpo que é a Igreja, é ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo título e grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja” (SC,7). (Cat. §1070).
Note, então, que nenhuma outra ação da Igreja supera a Liturgia. Por isso ela tem uma importância fundamental. Todas as devoções do povo de Deus são importantes, especialmente as recomendadas pela Igreja, mas a Liturgia as supera.
É toda a Igreja, o Corpo de Cristo unido à sua Cabeça, que celebra; por isso, as ações litúrgicas não são ações privadas, mas celebrações da Igreja, que é o sacramento da unidade, isto é, o povo santo, unido e ordenado sob a direção do Bispo. É por isso que a Igreja ensina que uma celebração comunitária, com assistência e participação ativa dos fiéis, deve ser preferida à celebração individual ou quase privada. (cf. SC, 27 e Cat. §1140)

Liturgias e Tradições
No tema principal desenvolvido pela liturgia de Natal encontramos os elementos básicos da teologia e da pastoral da festa. O Natal não é só uma recordação de algo que sucedeu na história. Constantemente a liturgia enfatiza que o fato do nascimento de Jesus Cristo está ordenado à Redenção, à Páscoa, à Parusia. Segundo a terminologia dos antigos, o Natal é uma memória (mistério), cujo centro é a morte e ressurreição de Jesus Cristo, sempre presente e operante, como alma de toda celebração litúrgica.
Ao redor da liturgia de Natal formou-se, no decurso dos séculos, uma série de costumes folclóricos que contribuíram para criar um ambiente festivo na intimidade das famílias e nas ruas das aldeias e cidades. Já no século V foram compostos cantos populares sobre o mistério da Encarnação, inspirados na teologia e na liturgia de Natal. Quando, no século XIII, São Francisco de Assis e seus discípulos propagam a devota prática de construir presépios nas igrejas e nas casas, se estendem as cantigas de Natal, caracterizados pelo tom simples e ingênuo de suas letras e de suas melodias que se referem preferentemente aos sentimentos da Virgem e dos pastores ante a pobreza que Deus escolheu ao tomar um corpo humano.
Como para expressar visivelmente o significado da “iluminação” obtida pelo nascimento de Jesus Cristo, há muito tempo se introduziu o hábito de acender fogos durante a noite de Natal, substituindo tradições pré-cristãs. A iluminação extraordinária dos lugares públicos durante o tempo de Natal se inspirou nesses usos.
Desde o século XVI, nos países nórdicos, começa o hábito de reunir-se em torno de uma árvore? a árvore de Natal?, símbolo da graça alcançada pela Encarnação e pela morte na árvore da cruz de Jesus Cristo, em contraposição ao pecado que se originou na árvore do paraíso.
Também, se destinou para o dia de Natal a prática de trocar presentes e felicitações; prática sugerida pela que existia em Roma no primeiro dia do ano, chamada estréia. No início, simbolizava-se que era o menino Jesus quem oferecia os presentes; e mais adiante, seriam os Reis Magos quem distribuíam os dons, e não tanto pelo Natal como pela Epifania, em que se comemora o fato da entrega de seus obséquios a Jesus Cristo.
Por último, durante a oitava de Natal se celebram as “memórias” dos Santos Estevão, João Evangelista e Inocentes, como as mais antigas, às que o Oriente acrescentava a dos Santos Pedro e Paulo.
Tradições e Costumes
As tradições e costumes são uma maneira de fazer presente o que ocorreu ou o que se costumava fazer nos tempos passados. São os fatos ou obras que se transmitem de uma geração a outra de forma oral ou escrita. A palavra tradição vem do latim “traditio” que vem do verbo “tradere” que significa entregar. Poder-se-ía dizer que tradição é o que nossos antepassados nos entregaram.
No caso da Natal, o mais importante das tradições e costumes não é só o aspecto exterior mas seu significado interior. Deve-se conhecer por quê e para quê se levam a cabo as tradições e costumes para assim poder vivê-las intensamente. Este é um modo de evangelizar.
Existem muitas tradições e costumes tanto do Advento como do Natal, os quais nos ajudam a viver o espírito natalino; contudo, devemos recordar que este espírito encontra-se na meditação do mistério que se celebra.
O calendário
Ao fixar-se esta data, também ficaram fixadas à da Circuncisão e da Apresentação; a da Expectação (Nossa Senhora da Esperança) e, quiçá, a da Anunciação da Santíssima Virgem Maria; também a do Nascimento e Concepção do Batista. Até o século décimo o Natal era considerado, nos documentos pontifícios, o inicio do ano eclesiástico, como continua sendo nas Bulas; Bonifácio VIII (1294-1303) restaurou temporalmente este costume, o qual a Alemanha sustentou durante algum tempo mais.
As três Missas
As três missas assinaladas para esta data no Missal de Gelasio e no Gregoriano, com um martirológio especial e sublime, e com a dispensa, se for necessário, da abstinência, ainda hoje são guardadas. Embora Roma indique somente três Missas para o Natal, Ildefonso, um Bispo espanhol de 845, alude a uma tripla Missa no Natal: Páscoa, Pentecostes, e a Transfiguração. Estas Missas, de meia noite, ao alvorecer, e in die, estão misticamente relacionadas com a distribuição judia e cristã, ou ao triplo “nascimento” de Cristo: na Eternidade, no Tempo, e na Alma. As cores litúrgicas variavam: negro, branco, vermelho; e o Glória era só entoado ao princípio da primeira Missa desse dia.
Os presépios
No ano 1223 São Francisco de Assis deu origem aos presépios que atualmente conhecemos, popularizando entre os leigos um costume que até esse momento era do clero, fazendo-o extra-litúrgico e popular. A presença do boi e do burro deve-se a uma errônea interpretação de Isaías 1, 3 e de Habacuc 3, 2 (versão “Italiana”), apesar de aparecerem no magnífico “Presépio” do século quarto, descoberto nas catacumbas de São Sebastião no ano de 1877.
Os hinos e cantigas de natal
As primeiras cantigas de natal que se conhecem foram compostos pelos evangelizadores no século V com a finalidade de levar a Boa Nova aos aldeãos e camponeses que não sabiam ler. Suas letras falavam em linguagem popular sobre o mistério da encarnação e estavam inspiradas na liturgia da Natal. Chamavam-se “villanus” ao aldeão e com o tempo o nome mudou para vilancicos (do Espanhol “villancicos”). Estas falam em um tom simples e engenhoso dos sentimentos da Virgem Maria e dos pastores ante o Nascimento de Cristo. No século XIII estendem-se por todo o mundo junto com os presépios de São Francisco de Assis.
O famoso “Stabat Mater Speciosa” é atribuído a Jacopone Todi (1230-1306); “Adeste Fideles” data do século decimo sétimo. Mas, estes ares populares, e inclusive palavras, devem ter existido muito tempo antes que fossem postos por escrito.
Os vilancicos, ou cantigas de Natal, favoreciam a participação na liturgia de Advento e de Natal. Cantar cantigas de Natal é um modo de demostrar nossa alegria e gratidão a Jesus e escutá-los durante o Advento ajuda à preparação do coração para o acontecimento do Natal.
Os cartões de Natal
O costume de enviar mensagens natalinas se originou nas escolas inglesas, onde se pedia aos estudantes que escrevessem algo que tivesse a ver com a temporada natalina antes de sair de férias de inverno e o enviassem pelo correio à sua casa, com a finalidade de que enviassem a seus pais uma mensagem de Natal.
Em 1843, W.E. Dobson e Sir Henry Cole fizeram os primeiros cartões de Natal impressos, com a única intenção de por ao alcance do povo inglês as obras de arte que representavam o Nascimento de Jesus.
Em 1860, Thomas Nast, criador da imagem de Papai Noel, organizou a primeira grande venda de cartões de Natal em que aparecia impressa a frase “Feliz Natal”.
A árvore de Natal
Os antigos germânicos criam que o mundo e todos os astros estavam sustentados pendendo dos ramos de uma árvore gigantesca chamada o “divino Idrasil” ou o “deus Odim”, a quem rendiam culto a cada ano, no solstício de inverno, quando se supunha que se renovava a vida. A celebração desse dia consistia em adornar um pinheiro com tochas que representavam as estrelas, a lua e o sol. Em torno desta árvore bailavam e cantavam adorando ao seu deus.
Contam que São Bonifácio, evangelizador da Alemanha, derrubou a árvore que representava o deus Odim, e no mesmo lugar plantou outro pinheiro, símbolo do amor perene de Deus e o adornou com maçãs e velas, dando-lhe um simbolismo cristão: as maçãs representavam as tentações, o pecado original e os pecados dos homens; as velas representavam Cristo, a luz do mundo e a graça que recebem os homens que aceitam Jesus como Salvador. Este costume se difundiu por toda a Europa na Idade Média e com as conquistas e migrações chegou à América.
Pouco a pouco, a tradição foi evoluindo: trocaram as maçãs por bolas e as velas por luzes que representam a alegria e a luz que Jesus Cristo trouxe ao mundo.
As bolas atualmente simbolizam as orações que fazemos durante o período de Advento. As bolas azuis são orações de arrependimento, as prateadas de agradecimento, as douradas de louvor e as vermelhas de preces.
Costuma-se colocar uma estrela na ponta do pinheiro, que representa a fé que deve guiar nossas vidas.
Também costuma-se pôr adornos de diversas figuras na árvore de Natal. Estes representam as boas ações e sacrifícios, os “presentes” que daremos a Jesus no Natal.
Para aproveitar a tradição: Adornar a árvore de Natal ao longo de todo o advento, explicando às crianças o simbolismo. As crianças elaborarão suas próprias bolas (24 a 28 dependendo dos dias que tenha o Advento) com uma oração ou um propósito em cada uma, e conforme passem os dias as irão colocando na árvore de Natal até o dia do nascimento de Jesus.
Papai Noel (Santa Claus) ou São Nicolau
A imagem de Papai Noel, velhinho gorducho e sorridente que traz presentes às crianças boas no dia do Natal teve sua origem na historia de São Nicolau.
Existem várias lendas que falam acerca da vida deste santo:
Em certa ocasião, o chefe da guarda romana daquela época, chamado Marco, queria vender como escravo um menino muito pequeno chamado Adrian e Nicolau o impediu. Em outra ocasião, Marco queria apoderar-se de umas jovenzinhas se seu pai não lhe pagasse uma dívida. Nicolau se inteirou do problema e decidiu ajudá-las. Tomou três sacos cheios de ouro e na Noite de Natal, em plena escuridão, chegou até a casa e colocou os sacos pela chaminé, salvando, assim, as meninas.
Marco, que queria acabar com a fé cristã, mandou queimar todas as igrejas e prender todos os cristãos que não quisessem renegar sua fé. Assim foi como Nicolau foi capturado e preso. Quando o imperador Constantino se converteu e mandou liberar todos os cristãos, Nicolau havia envelhecido. Quando saiu do cárcere, tinha a barba crescida e branca e tinha as roupas vermelhas que o distinguiam como bispo; contudo, os longos anos de cárcere não conseguiram tirar sua bondade e seu bom humor.
Os cristãos da Alemanha tomaram a história dos três sacos de ouro deixados pela chaminé no dia de Natal e a imagem de Nicolau ao sair do cárcere, para tecer a história de Papai Noel, velhinho sorridente vestido de vermelho, que entra pela chaminé no dia de Natal para deixar presentes para as crianças boas.
O Nome “Santa Claus” vem da evolução paulatina do nome de São Nicolau: St. Nicklauss, St. Nick, St. Klauss, Santa Claus, Santa Clos.
Não obstante, o exemplo de São Nicolau nos ensina a ser generosos, a dar aos que não têm e a fazê-lo com discrição, com um profundo amor ao próximo. Nos ensina além disso, a estar atentos às necessidades dos demais, a sair de nosso egoísmo, a ser generosos não só com nossas coisas mas também com nossa pessoa e nosso tempo.

A Liturgia no Primeiro Século
A liturgia no primeiro século se desenvolveu com o ensino dos Apóstolos por onde passavam. Já nos primórdios da Igreja começaram a compreender os Sacramentos instituídos por Jesus, uma vez que eles têm clara fundamentação nos Evangelhos e Cartas dos Apóstolos: Batismo (Mt 28,19), Crisma (At 8,14-17), Eucaristia (Lc 22,19-20; Mt 26,26-30; Mc 14, 22-26; 1 Cor 11,23-25), Confissão (Jo 20,22-23), Ordem (Lc 22,19), Unção dos enfermos (Tg 5,13-15) e Matrimônio (Mt 19,3-9), e aos poucos foram entendendo o seu significado. A celebração da Eucaristia foi celebrada desde o início aos domingos. São Justino, mártir (†165) escreveu:
“Reunimo-nos todos no dia do sol, porque é o primeiro dia após o Sábado dos judeus, mas também o primeiro dia em que Deus, extraindo a matéria das trevas, criou o mundo e, neste mesmo dia, Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dentre os mortos” (Apologia 1,67).
Santo Inácio de Antioquia, mártir (†107) disse:
“Aqueles que vivem segundo a ordem antiga das coisas voltaram-se para a nova esperança, não mais observando o Sábado, mas sim o Dia do Senhor, no qual a nossa vida é abençoada por Ele e por sua morte” (Carta aos Magnésios 9,1).
“Cuidai, pois, de reunir-vos com mais frequência, para dar a Deus ação de graças e louvor. Pois, quando vos reunis com frequência, abatem-se as forças de Satanás e desfaz-se o malefício, pela vossa união na fé. Nada melhor que a paz que aniquila toda guerra de poderes terrestres e celestes” (Carta aos Efésios, 13,1-2; p. 45).
“Sede solícitos em tomar parte numa só Eucaristia, porquanto uma é a carne de Nosso Senhor Jesus Cristo, um o cálice para a união com Seu Sangue, um o altar, assim como um é Bispo, junto com seu presbitério e diáconos […]” (Carta aos Filadélfios, 4,1, p. 72).
Vários documentos do primeiro século nos ajudam a conhecer a vida dos primeiros cristãos neste tempo. Um deles é a Didaquè, ou também chamada Doutrina dos Doze Apóstolos; é como um antigo manual da fé cristã que deve ter sido escrita entre os anos 90 e 100, na Síria, ou na Palestina ou em Antioquia. Os antigos Padres falavam muito da Didaquè, o que lhe dá um valor especial. Trata-se de um pequeno tratado moral para os catecúmenos, um antigo ritual litúrgico, que traz instruções relativas à vida comunitária.
A Didaquè foi encontrada em 1873 com duas cartas do Papa São Clemente Romano e a Epístola de Barnabé, na biblioteca do Hospital do Santo Sepulcro em Constantinopla, pelo arcebispo grego Filoteo Briennios. Fala sobre o Batismo, a Eucaristia, o Domingo, a escolha de bispos, presbíteros e diáconos, já no primeiro século:
“Quanto ao Batismo, batizai assim: depois de terdes ensinado o que precede, batizai em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, em água corrente; se não existe água corrente, batize-se em outra água. Se não puder ser em água fria, faze em água quente. Se não tens bastante, de uma ou de outra, derrama água três vezes sobre a cabeça, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Antes do Batismo, jejuem: o que batiza, o que é batizado e outras pessoas” (7,1-14; p. 30).
Esta é a tradição que a Igreja recebeu dos Apóstolos; por isso pode batizar por derramamento de água e não por imersão. A Didaquè nos mostra como já era celebrada a sagrada Eucaristia:
“Celebre a Eucaristia assim: Diga primeiro sobre o cálice: “Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da santa vinha do teu servo Davi, que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para sempre.”
Depois diga sobre o pão partido: “Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da vida e do conhecimento que nos revelaste através do teu servo Jesus. A ti, glória para sempre […].”
Que ninguém coma nem beba da Eucaristia sem antes ter sido batizado em nome do Senhor pois sobre isso o Senhor disse: “Não deem as coisas santas aos cães” (9,1-5, p. 32).
“Reúna-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício seja puro […]. Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse: “Em todo lugar e em todo tempo, seja oferecido um sacrifício puro porque sou um grande rei – diz o Senhor – e o meu nome é admirável entre as nações” (14,1-3; p. 39).
A Eucaristia sempre foi o ponto alto da fé dos cristãos; reproduz a Santa Ceia tomada por Jesus com seus Apóstolos e que lhes ordenou: Fazei isto em memória de mim, e que os discípulos chamavam de ‘fração do pão’ (cf. At 2,42; 20,11), celebrada especialmente no domingo. Logo eles foram entendendo a palavra de Jesus: Isto é o meu corpo; este é o meu sangue. Logo se firmou esse sentido místico da Eucaristia. São Paulo escreveu: “O cálice de bênção que consagramos não é o sangue de Cristo? E o pão que partimos não é a comunhão com o sangue de Cristo?” (1Cor 10,16). Jamais os cristãos deixaram de ter essa certeza. Já no começo do século II, Santo Inácio de Antioquia (†107) escreveu:
“A Eucaristia é a carne de Nosso Senhor Jesus Cristo, a carne que sofreu pelos nossos pecados, a carne que, na sua bondade, o Pai ressuscitou” (Carta aos Esmirnenses, 7,1).
A Eucaristia, como entendida acima, constitui uma afirmação dogmática que nenhuma religião atingiu e que por isso distingue o Cristianismo de todas as outras religiões conhecidas.

O que é essencial na Liturgia?
A Liturgia é, acima de tudo, comunhão com Jesus Cristo. Cada celebração litúrgica, e não apenas a eucarística, é uma pequena festa pascal. Jesus celebra conosco a passagem da morte à Vida, abrindo-a a nós.
A celebração litúrgica mais importante era a liturgia pascal, que Jesus celebrou com os Seus discípulos, na sala de jantar, na véspera da Sua morte. Os discípulos pensavam que Jesus ia libertar Israel do Império Romano, como outrora Deus o libertou do Egito. Jesus celebrou, porém, a libertação de toda a humanidade do poder da morte. Antes, fora o “sangue do cordeiro” que preservou os israelitas do anjo da morte; agora, seria Ele próprio o cordeiro cujo sangue salvaria a humanidade da morte.
Portanto, a morte e a ressurreição de Jesus são um testemunho de que se pode morrer e, apesar disso, voltar à vida. Este é o conteúdo próprio de cada celebração litúrgica cristã. O próprio Jesus comparou a Sua morte e a Sua ressurreição com a libertação de Israel de escravidão do Egito. Por isso, a ação redentora da morte de Jesus é designada por “mistério pascal”.
 Assim como o sangue do cordeiro salvou a vida dos israelitas quando da sua saída do Egito, também Jesus, enquanto verdadeiro cordeiro pascal, redimiu a humanidade do seu envolvimento da morte e no pecado.

A importância de se amar a Liturgia

Não se ama o que não se conhece. Podemos dizer que esta acaba sendo uma verdade dificilmente contestada, especialmente em relação ao assunto que estamos tratando: a Sagrada Liturgia. Só poderemos amar, verdadeiramente, a Santa Liturgia se a conhecermos.
Quando vamos a Santa Missa, devemos lembrar-nos que não estamos apenas em uma reunião fraterna que acontece uma vez na semana. Por mais que este quesito esteja incluído na Liturgia, ela o ultrapassa de forma exponencial.
O Catecismo da Igreja Católica é bastante claro ao definir a Liturgia Eucarística como algo sublime e divino: “A Eucaristia é ‘fonte e ápice de toda a vida cristã'; ‘Os demais sacramentos, assim como todos os mistérios eclesiásticos e tarefas apostólicas se ligam à sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Pois a santíssima Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, a saber, o próprio Cristo, nossa Páscoa'”. Quando participamos da Santa Missa estamos aos pés do Calvário, com Maria Santíssima, participando ativamente do Único Sacrifício Redentor de Cristo. Da mesma forma, na Santa Missa estamos juntos ao Senhor Ressuscitado, vencedor da morte, que reconciliou o mundo com Deus e nos concedeu a vida plena e em abundância. É na Santa Missa que nos apresentamos frente ao Emanuel (Cf. Is 7, 14 e Mt 1, 23), o Deus Conosco, que antes de partir para os Céus deu-se em alimento para seus Discípulos mandando que repetissem sempre o mesmo gesto “em memória de mim” (Lc 22, 19).
A Santa Missa é Banquete, porque comungamos do Corpo e Sangue do Senhor, mas é também o mesmo Sacrifício da Cruz onde nosso Senhor entregou-se em remissão dos pecados da humanidade como o cordeiro sem mancha que deveria ser oferecido na Páscoa judaica (cf. At 8, 32-33 e Is 53, 7s). Portanto, a Santa Missa é um grande Banquete Sacrifical, onde nos deparamos frente aos Santos Mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, onde nos encontramos com o Deus Vivo e Verdadeiro. Na Santa Eucaristia o Senhor Ressuscitado está verdadeiramente presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade! O pão e vinho são transubstanciados em Corpo e Sangue do Senhor! “É o Senhor” (cf. Jo 21, 7) entre nós! Na Santa Missa, vivenciamos os Santos Mistérios (Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor) e que grande Mistério vivemos na Santa Missa!
Quanto amor devemos ter a Santa Missa! Quanto amor devemos ter pela Santa Eucaristia! Se soubéssemos o quanto é grande o Mistério que se celebra, o tamanho da Obra Salvífica do Senhor, deveríamos arder de amor pelo Sacramento do Altar como os próprios Serafins! Por isso, com mais certeza ainda, devemos lembrar que o centro da Celebração não é o homem, mas o próprio Deus. Devemos proclamar sempre: a Igreja vive da Eucaristia! E isso implica em vários pontos.
Quis o Concílio Vaticano II que na Reforma Litúrgica: “As cerimônias resplandeçam de nobre simplicidade, sejam transparentes por sua brevidade e evitem as repetições inúteis, sejam acomodadas à compreensão dos fiéis e, em geral, não careçam de muitas explicações”. Assim, vemos a primeira e grande preocupação do Concílio: que os ritos falem por si mesmo, sem necessidade de muitas explicações.
Aqueles que estão envolvidos com a Liturgia, seja da forma que for, devem aprender a amá-la. Talvez esse deva ser o primeiro passo para ter-se uma Liturgia bem celebrada em nossas comunidades. Como amamos a Liturgia? Inicialmente conhecendo-a. Seguindo o que disse o então Cardeal Ratzinger, conhecer a Liturgia seria conhecer a Tradição viva e, se pensarmos assim, veremos que todos os ritos que existem na Liturgia têm raízes na mesma Tradição, uma raiz na História da Igreja, no desenvolvimento orgânico, logo gradual e crescente, da própria Liturgia. Devemos saber que raiz é essa e assim, mesmo os menores ritos, começarão a desdobrar-se em uma sequência de significados que, sem seu contexto histórico ou descolado da Tradição, não nos pareceria compreensível.
Diz-nos, de forma bastante inteligente, o conhecido autor americano Scott Hahn, aqui famoso pelo livro “O Banquete do Cordeiro”, prefaciando um livro de Mike Aquilina: “A Igreja possui sua memória e ela é chamada Liturgia. A Liturgia é a memória da Igreja. A Missa é o lugar onde a Tradição vive. (…) Na Missa, os cristãos são trazidos até aquele Único Sacrifício, que é eterno. (…) Na Missa, a Igreja conhece sua identidade e ensina-nos de modo mais concreto que em qualquer solene documento papal. O papa Pio XI declarou que a Liturgia é o órgão primário do Magistério ordinário da Igreja”.
Devemos lembrar que a Igreja é universal e a Liturgia deve demonstrar essa universalidade da fé católica. Celebrar de modo uniforme, como pede a Igreja, não é uma forma de tornar o sacerdote uma máquina de celebrar, ou os Mestres de Cerimônias apenas mestres na arte de pesquisarem normas litúrgicas em livros que poucos conhecem e estão escondidos em escuros corredores de bibliotecas, ao contrário! Celebrar como pede a Igreja é demonstrar respeito a nossas raízes cristãs, as gerações que vieram antes de nós e a união que temos com todos os católicos do mundo inteiro.

Pode a Igreja alterar ou renovar a Liturgia?
 Existem partes da Liturgia que podem ser alteradas, outras não. Inalterável é tudo o que tem origem divina, como as palavras de Jesus na Última Ceia. A par disso, há partes alteráveis que a Igreja, por vezes, tem de mudar; como o mistério de Cristo deve ser anunciado, celebrado e vivido em todos os tempos e lugares, a Liturgia tem de corresponder ao espírito e à cultura de cada povo. [CIC 1200-1209]
Jesus atingiu o ser humano na sua totalidade: espírito e inteligência, coração e vontade. O mesmo quer Ele fazer na Liturgia. Por isso, ela assume traços e rostos diferentes na África, na América, na Ásia, na Oceania e na Europa, num lar de terceira idade e nas Jornadas Mundiais da Juventude, nas comunidades paroquiais e nos mosteiros. Porém, deve ficar claro que ela é o único “serviço divino” da Igreja total e universal.




A liturgia fonte de vida, de oração e de catequese
Os números 1071-1075 do Catecismo da Igreja Católica (CIC) falam da sagrada liturgia como fonte de vida, e da sua relação com a oração e a catequese. A liturgia é fonte de vida, principalmente porque é “obra de Cristo” (CIC, 1071). Segundo, porque “é também uma ação da sua Igreja” (ibid.). Mas entre esses dois aspectos, qual é o mais importante? E, também, o que significa neste contexto a palavra “vida”?
Responde o Concílio Vaticano II: “Da Liturgia, pois, em especial da Eucaristia, corre sobre nós, como de sua fonte, a graça, e por meio dela conseguem os homens com total eficácia a santificação em Cristo e a glorificação de Deus, a que se ordenam, como a seu fim, todas as outras obras da Igreja.”(Sacrosanctum Concilium [SC], 10). Compreende-se assim que, quando se diz que a liturgia é fonte de vida, se quer dizer que dela jorra a graça. Com isso, já se respondeu à primeira pergunta: a liturgia é fonte de vida principalmente porque é obra de Cristo, Autor da graça.
Um princípio clássico do catolicismo, no entanto, diz que a graça não tira a natureza, mas a supõe e a aperfeiçoa (cf. S. Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, 1, 8 ad 2, etc.).Por isso, também o homem coopera com o culto litúrgico, que é ação sacerdotal do “Cristo todo inteiro”, ou seja da Cabeça, que é Jesus, e dos membros, que são os batizados. Assim, a liturgia é fonte de vida também enquanto ação da Igreja. Justo em quanto obra de Cristo e da Igreja, a liturgia é “ação sagrada por excelência” (SC 7), doa aos fiéis a vida de Cristo e requer a sua participação consciente, ativa e frutuosa (cf. SC, 11). Aqui se compreende também a ligação da sagrada liturgia com a vida de fé: podemos dizer “da Vida à vida”. A graça que nos é dada por Cristo na liturgia exige uma participação vital: “A Sagrada liturgia não esgota toda a ação da Igreja” (SC, 9), na verdade, ” Deve ser precedida pela evangelização, pela fé e pela conversão, e só então pode produzir os seus frutos na vida dos fiéis “(CIC, 1072).
Não é por acaso que, no momento de recolher os escritos litúrgicos de J. Ratzinger em um único volume, intitulado Teologia da Liturgia, se pensou expressar uma das intuições fundamentais do autor acrescentando o subtítulo: A fundação sacramental da existência cristã. É uma tradução em termos teológicos do que Jesus disse no Evangelho com as palavras: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15.5). Na liturgia nós recebemos o dom daquela vida divina de Cristo, sem a qual não podemos fazer nada de válido para a salvação. Assim, a vida do cristão não é senão uma continuação, ou o fruto da graça que é recebida no culto divino, especialmente na Eucaristia.
Em segundo lugar, a liturgia tem uma relação estreita com a oração. Mais uma vez, o foco de entendimento dessa relação é o Senhor: ” A liturgia é também participação na oração de Cristo, dirigida ao Pai no Espírito Santo. Nela, toda a oração cristã encontra a sua fonte e o seu termo” (CIC, 1073). A liturgia é, portanto, também, uma fonte de oração. A partir dela, aprendemos a rezar no modo correto. Uma vez que a liturgia é a oração sacerdotal de Jesus, o que podemos aprender dela para a nossa oração pessoal? Em que consistia a oração do Senhor? “Para compreender a Jesus são fundamentais as referências recorrentes ao fato de que ele se retirava “à montanha” e lá orava por noites inteiras, “sozinho” com o Pai. […] Esta “oração” de Jesus é a conversa do Filho com o Pai em que estão envolvidos a consciência e a vontade humanas, a alma humana de Jesus, de modo que a “oração” do homem possa tornar-se participação na comunhão do Filho com o Pai” (J. Ratzinger/Benedetto XVI, Gesù di Nazaret, I, Rizzoli, Milano 2007, pp. 27-28 [tradução nossa]). Em Jesus, a oração “pessoal” não é distinta da sua oração sacerdotal: de acordo com a Carta aos Hebreus, a oração que Jesus suportou durante a Paixão “constitui a atuação do sumo sacerdócio de Jesus. Precisamente no seu grito, choro e oração Jesus faz o que é próprio do sumo sacerdote: Ele eleva ao alto o trabalho do ser humano junto à Deus. Leva o homem diante de Deus” (ibid., II, LEV, Città del Vaticano 2010, p. 184).
Em uma palavra, a oração de Jesus é uma oração de colóquio, uma oração dirigida na presença de Deus. Jesus nos ensina este tipo de oração: “É necessário ter sempre viva esta relação e reconduzir-vos continuamente aos acontecimentos cotidianos. Vamos rezar mais e melhor quanto mais nas profundezas da nossa alma haja a orientação em direção a Deus “(ibid., I, p. 159). A liturgia, portanto, nos ensina a orar porque nos reorienta constantemente a Deus: “Corações ao alto – O nosso coração está em Deus”. A oração é estar dirigido ao Senhor – e isto é também o sentido profundo da participação ativa na liturgia.
Finalmente, a oração é “lugar privilegiado da catequese […] em quanto procede do visível para o invisível” (CIC, 1074-1075). Isto implica que os textos, os sinais, os ritos, os gestos, e os elementos ornamentais da liturgia devem ser tais, que transmitam realmente o Mistério que significam e que possam assim serem utilmente explicados dentro da catequese mistagógica.


 

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